No dia 18 de fevereiro a historiadora Luana Tolentino, também professora e ativista do
Movimento Negro, entrou para a história ao reusar um convite para participar do programa “Caldeirão do Huck” (Rede Globo), em um quadro que, na ocasião, prestaria uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Respeitando suas convicções e opinião Luana, em um gesto raro, recusou os holofotes e oba-oba, bem como o ego e a vaidade, deixando uma importante lição para todos nós de que alimentar aqueles que se alimentam do caos, da desgraça alheia é fomentar tudo aquilo que tanto desprezamos: o sensacionalismo e o oportunismo midiático.
Os motivos que a levou recusar o convite da produção do programa foi postado, por ela, em sua conta do Facebook. Lúcida e coerente, Luana diz ser contra a conduta do
programa que espetaculariza as pessoas que tem histórias de superação,
além de “objetificar o corpo da mulher negra” citando, como exemplo, o polêmico quadro em que Luciano Huck, durante a Copa do
Mundo, “usou o programa para oferecer brasileiras aos gringos”, o que
não condiz com os ideais da professora, que já contribuiu para o site
Pragmatismo Político.
JUSTIFICATIVA DE LUANA, POSTADA EM SEU FACEBOOK:
Hoje [18 de fevereiro] à tarde fui surpreendida com um telefonema da
produção do Caldeirão do Huck. Em março, o programa fará uma homenagem
ao Dia Internacional da Mulher. Segundo a produtora do programa “sou uma
mulher inspiradora”. Por isso eles acharam que o Luciano Huck deveria
me entrevistar.
Não aceitei. Minha decisão não se deu pelo fato do Caldeirão do Huck
fazer parte da programação da Rede Globo, emissora pela qual tenho uma
infinidade de críticas e há muito tempo não assisto. Longe disso. Não
aceitei porque não me agrada a espetacularização que é feita com a vida
das pessoas que tem uma “história de superação”.
Não aceitei porque não vou me prestar ao papel de reforçar o discurso da meritocracia, que discordo e combato com veemência.
— Luana, você é a prova de que quando as pessoas realmente querem, elas conseguem! — Foi o que a produtora me disse.
Mas não é bem assim. De fato, desejei estudar, desejei escrever,
desejei ser professora. Me sinto grata, rica, realizada em poder fazer
tudo o que eu sempre quis. Porém, provavelmente tudo teria sido muito
diferente não fosse a estrutura desigual, racista e machista do nosso
país.
Para chegar até aqui tive que romper barreiras visíveis e invisíveis.
Nesse percurso fui me arrebentando de tal maneira que às vezes tenho a
sensação de que sou toda quebrada por dentro. São questões que precisam
ser ditas, mas a produção e o Luciano Huck não têm o menor interesse em
debatê-las ou enxergá-las.
Concordo que nós negras e negros devemos ocupar espaços, que as
nossas vozes devem ir para além da internet, da Academia, e no meu caso,
da sala de aula, mas não acho que seja necessário perder de vista os
compromissos assumidos: comigo mesma e com aqueles que represento
através da minha fala e da minha escrita.
Respeito o trabalho da profissional que entrou em contato comigo. Por
isso agradeci imensamente o convite. Por outro lado, não vejo o menor
sentido em ser homenageada no dia 8 de Março pelo Luciano Huck, que
durante a Copa usou o programa para oferecer brasileiras aos gringos,
como se fôssemos mercadoria.
Por: Juliana Martinelli
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