Mistérios e Segredos do Sítio Casarão

Mystery and Secrets of the ranch townhouse

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O PAINEL DA ANTIGA ATLANTIC e O OUTRO LADO DO MURO!

Obra de 1968, da primeira muralista do Estado: a artista Marian Rabello


Este é mais um patrimônio que estamos de olho e cobrando junto ao  Secretário de Cultura e dos Conselhos Municipais de Cultura e de Turismo, da Serra, que se empenhem em preserva-lo, reiterando a solicitação, que segundo Adriano Cordeiro, presidente da Associação de Moradores de Colina de Laranjeiras - AMACOL, já foi manifestada em Audiência Pública e em reunião realizadas com o Grupo Carrefour.

Trata-se do gigantesco painel no muro frontal da antiga fábrica da Atlantic Veneer do Brasil


O painel, em azulejos pintados, de 1968, é da artista plástica capixaba Marian Rabello e retrata algumas questões da época que, 40 anos depois, ainda é um dos grandes problemas que a humanidade enfrenta: o desmatamento ou corte indiscriminado das árvores e a relação homem-natureza.

Marian é pintora, ceramista e a primeira muralista do Estado! Começou a pintar aos 12 anos e realiza exposições desde 1964. 

Seus trabalhos são feitos em telas, murais, cerâmicas, azulejos e pastilhas e é reconhecido no Brasil e no exterior. 

Mural na agência dos correios da Praia da Costa, em Vila Velha.
Algumas de suas obras foram tombadas pelo IPHAN, entre elas a "Romaria dos Homens", exposta na galeria do Convento da Penha e outro na agência dos correios da Praia da Costa, na Av. Champagnat, em Vila Velha

Outras duas cidades capixaba, pelo que sabemos, também ostentam o privilégio de terem obras da artista: Viana, na fábrica da Real Café e Guarapari, no antigo Centro de Conveções. 


Quem passa pela BR 101, no Km 264, encanta-se com o painel, de cunho surrealista, que chama atenção pela variedade de cores.  
No local o Grupo Carrefour vai construir um "atacarejo", modalidade de hiper que vende no atacado e no varejo.

Em Audiência Pública sobre a implantação do empreendimento no bairro, que ocupará uma área de 39 mil metros quadrados, os moradores de Colina de Laranjeiras cobraram do Grupo Carrefour a preservação do painel, tendo em vista que ele já é considerado um importante patrimônio do município.

A HISTÓRIA, DO OUTRO LADO DO PAINEL!

A Atlantic Veneer do Brasil S/A Indústria de Madeiras era uma empresa do ramo de madeiras laminadas, compensados e lambris e pertencia ao alemão Karl Heinz Möehring

A fábrica foi inaugurada no município de Serra em março de 1968 (Findes, 1997). Segundo matéria da Revista Noroeste, de 1987, a Atlantic Veneer do Brasil, na época, era considerada a maior fábrica das Américas na área de lambris e compensados e a maior do mundo em laminados. Na Serra ela ocupava uma extensa área de cerca de 62,93 hectares. Era um complexo tão grande que os supervisores percorriam a área de bicicleta e os da administração, de Volkswagen (Revista Noroeste,1987).

A empresa ostentava boas e más fama. Entre as más tinham as denuncias de condições de trabalho indignas, jornada de trabalho excessiva, falta de equipamentos de segurança, horário exíguo para as refeições, feitas em meio ao pó de madeira e sobre as máquinas,  moradias muito inferiores aos padrões mínimo aceitável,  não remunerava adequadamente os trabalhadores e era conhecida pelos frequentes acidentes de trabalho e por suas ameaças de demissão caso alguém se atrevesse a reclamar da empresa. (Revista Agora, nº 81/87, setembro/1987).

No final dos anos 90, com a transferência das máquinas e dos equipamentos para a cidade de Várzea Grande, no Mato Grosso, a empresa iniciava o fim das atividades no Estado, fechando em 1998 e requerendo falência em 2005. (A Tribuna 26/03/2006) 



O terreno, além da Atlantic Veneer, tinha duas vilas que foram construidas pela empresa para "abrigar" seus funcionários. 

Os da produção moravam na vila mais afastada da fábrica, em casas de padrão inferior, algumas germinadas totalizando cerca de 300 residências e que ficou conhecida como Chicópolis

Já os que ocupavam cargos como gerentes, diretores e empregados da administração moravam em Chico City, os nomes das duas vilas são em homenagem ao programa "Chico City", lançado na Rede Globo em 1973. Essa vila ficava mais próxima da empresa, tinha 115 casas, padronizadas, e com qualidade um pouco melhor do que as de Chicópolis. 

A primeira vila já não existe mais e a segunda enfrenta problemas de regularização fundiária. A maioria dos moradores ainda são de ex-funcionários da Atlantic Veneer.


A VILA QUE LUTA PARA SE TORNAR BAIRRO.

Chico City enfrenta um sério problema: não é reconhecida como bairro pela prefeitura, pois ocupa uma área privada. Os  atuais moradores lutam pela regularização fundiária e pelo reconhecimento do espaço como bairro. Apesar de terem Associação de Moradores, direito ao Orçamento Participativo e ainda serem reconhecidos pela Federação das Associações de Moradores de Serra - FAMS, a área ainda é considerada particular, pertencente à empresa. A pequena vila, que antes ficava sob a sombra da fábrica, hoje vai sendo engolida por grandes empreendimentos que emergem ao seu redor. Atualmente Chico City faz parte de Colina de Laranjeiras, um dos novos bairros na Serra que registra um dos maiores índices de crescimento e valorização, no município.

O DESTINO DA PEQUENA VILA...!?



O imenso terreno da antiga fábrica foi dividido em lotes e leiloados para o pagamento de suas dívidas. Uma das empresas adquirentes é da construção civil e já iniciou a construção de condomínios fechados no local. 


Outra parte do terreno, que também foi leiloada, foi vendida posteriormente para o Grupo Carrefour, que já anunciou a construção de um "atacarejo" no local.

Quanto a área onde está localizada a pequena Chico City, com suas 115 casas, não temos informações sobre o seu destino. Dizem que a área não constava nos lotes leiloados. 

O fato é que nessa pequena vila todos estavam ligados a grande fábrica, já que um contrato impedia que qualquer habitante da vila trabalhasse em outra empresa. Assim, as familiar cresceram e viveram trabalhando na grande fábrica madeireira.

Enquanto a Atlantic Veneer existia, uma escola e uma creche eram mantidas nas vilas, as casas eram reformadas pela empresa, sem custo para os moradores, que tinham a obrigação de preservá-las, sendo proibida qualquer reforma. O aluguel, descontdo no pagamento, era modesto e muitos moradores consideravam os dirigentes boas pessoas e gostariam de voltar a trabalhar na fábrica. 

Hoje, restam as saudades e o medo de, a qualquer momento, chegar uma ordem de despejo.

FONTES:

FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA ANTIGA VILA OPERÁRIA DE CHICO CITY, REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA, ESPÍRITO
SANTO, de ROSIMERY ALIPRANDI RIBEIRO - Maio de 2011.

Maria Goreti Rocha         

9 comentários:

Professora Maria Dirce Barcelos disse...

Também estou de olho. Hoje quando passei pelo local de carro, vi o mural cercado por madeirite e pedi que fosse fotografado.
Não podemos admitir que seja derrubado, isso é inaceitável!

Professora Maria Dirce Barcelos disse...

Também estou de olho. Hoje quando passei pelo local de carro, vi o mural cercado por madeirite e pedi que fosse fotografado.
Não podemos admitir que seja derrubado, isso é inaceitável!

Unknown disse...

Tenho dois quadros de Marian Rabello,tenho interesse em vende-los.Meu telefone para contato.71 87443726.Salvador-BA.

Sítio Casarão disse...

Prezada, Madu Mota.

No próximo dia 13 de Março será lançado o livro "Marian Rabello e os azulejos murais - experiências em arte pública.

Quanto a venda de seus quadros, iremos divulgar. Caso tenha fotos e puder enviar, nosso e-mail é sitiocasarao@hotmail.com

Abraços!

Marcelino Rocha disse...

Isso tudo que ai esta relatado é uma mentira deslavada do Adriano cordeiro, pois antes deste Cidadão entrar para a politica a Associação de Moradores de Chico City tendo a Frente a Líder Hozana Rocha, Já havia colocado no PDM do Município, onde uma de nossas sugestões era exatamente a preservação desta obra de valor inestimável e Atemporal, não aceito que Oportunistas sombreiem as ações de uma comunidade que esteve por muitos anos a frente desta associação, inclusive mantendo a limpeza e as capinas regulares em Colina. A preservação da área do entorno destas comunidades e o bosque de Pau brasil ainda persistem a duras penas graças as ações do grupo de agentes ambientais Teius formados graças a associação de moradores de Chico City em parceria com a Prefeitura de Serra, Hoje muitos tentam e com algum exito, invadir as áreas do entorno, já que cercaram e se poem como donos do local e a AMACOL e seu Adriano Cordeiro nada Faz para solucionar o problema. desculpem o desabafo, mas a verdade deve de ser esclarecida e a mentira posta à prova.

Sítio Casarão disse...

Agradecemos pelas informações, Marcelino. Todas as ações em defesa da preservação do referido painel são válidas, principalmente vindas de cidadãos sem vínculos partidários, tendo em vista que a sociedade a cada dia perde a credibilidade em nossos políticos. As informações da postagem procedem e, na ocasião, nossas fontes pertenciam, ou pertencem a Associação de Moradores de Colina de Laranjeiras, que participaram da Audiência Pública em defesa da instalação do empreendimento com garantias de se preservar o painel. Nessa, além dos que tinham interesses políticos, muitos presentes eram cidadãos sem envolvimento partidário que apoiavam a preservação da obra. Nós, do Blog Sítio Casarão apoiamos ações públicas em defesa do interesse público e dos equipamentos públicos, onde quer que ocorram pois consideramos que o que é bom para todos é bom para nós, já que fazemos parte desse todo. Não temos vínculos partidários e nem almejamos candidatura a cargo político. Assim como a maioria dos cidadãos, firmamos a nossa decepção com nossos políticos que, a cada manchete, só nos revela vergonha, descaso e corrupção. Com a ajuda de muitos, o painel foi preservado e cada cidadão que participou e contribuiu com essa vitória tem o nosso respeito e gratidão. parabéns aos cidadãos de Colina, Chico City e todos aqueles que mesmo não residindo na região, não pouparam esforços para que esse patrimônio público, de valor cultural e histórico, fosse preservado.

Edson Mendes disse...

Lembro-me quando adolescente nos anos 70, essa gigantesca empresa que via com admiração quando pensávamos à sua frente passeando com meus pais . Hoje acabei de ler e ficar com o devido conhecimento sobre ela. Apoio integralmente o seu registro pois faz parte da história. Penso e apoio tudo a seu favor. Que seja respeitado o nome do bairro Chico City a todos àqueles que trabalharam na maior empresa que foi a maior do Brasil e do mundo. Parabéns a todos hoje é sempre.

Unknown disse...

Trabalhei nesta grande fábrica da Atlantic Veneer do Brasil, por um ano. Conheci o o dono, sr. Karl-Heinz Moering e seu sócio, também alemão, que me considerava quase como um filho, pois me tratava com muito carinho. Na época, um representante destes dois sócios procurava, em Santa Catarina, jovens de origem alemã, como eu, que gostariam de trabalhar nesta fábrica em Serra, ES, para serem treinados como técnicos em laminação de madeira e para posteriormente ocuparem os cargos de supervisores de turno em cada uma das grandes máquinas que cortavam as toras enormes de madeira em lâminas. Foi uma experiência inédita. Fui muito bem tratado pelos seus sócios e também morei em uma das casas construídas destinadas aos gerentes dentro do grande terreno da fábrica. Foi uma experiência marcante na minha vida, embora tenha sido apenas por um ano.

Alidia Schultz Rodrigues disse...

Gostaria de saber onde posso encontrar o escritório ou um lugar onde eu posso requerer os dados que trabalhei. Preciso para me aposentar serra es

POSTAGENS RELACIONADAS...

É BOM! É LEGAL! É SOCIAL!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...