Mistérios e Segredos do Sítio Casarão

Mystery and Secrets of the ranch townhouse

sábado, 5 de julho de 2014

PARINTINS: CAPIXABAS NO BUMBÓDROMO!

Por Ádson Lima
Blog Sítio Casarão


Já imaginou a emoção de fazer parte do júri do maior espetáculo folclórico do Brasil e a segunda maior festa popular do mundo, no meio do Amazonas?

Pois é, este ano tivemos capixabas representando o Espírito Santo, INTEGRANDO O GRUPO DE JURADOS e vivenciando essa grande emoção. 


A artista plástica Marcela Belo, natural de Cariacica, foi uma das felizardas que integrou o grupo de jurados do Festival de Parintins 2014 e que nos concedeu uma entrevista onde falou sobre essa experiência e revelou alguns detalhes dessa suntuosa, intrigante e curiosa festa, na floresta.


O FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS



Teve início, oficialmente, em 1965 e ocorre todo mês de junho. São 10 dias de festas e, nos sete primeiros, vários grupos realizam apresentações folclóricas, com suas representações de lendas ao som de toadas e cantos indígenas, teatralizações de rituais, fantasias, figuras engraçadas e curiosas do imaginário da região. A apoteose do festival ocorre no final, com duração de três noites, onde se apresentam os dois bois: Caprichoso e Garantido. No início acontecia nos dias 28, 29 e 30 e, a partir de 2005, passou a ser no último final de semana de junho.



Foto: Marcela Belo - via iPhone.
O festival recebe o nome da cidade onde acontece – Parintins – localizada na Ilha Tupinambarana, às margens do rio Amazonas, com cerca de 100 mil habitantes e a 420 km da capital, Manaus.



Vamos mergulhar na aventura vivenciada pela artista plástica capixaba e descobrir como foi essa experiência e saber mais sobre esse suntuoso e original festival, que ocorre no meio do Amazonas.



MARCELA BELO - formou-se em artes plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES e atualmente faz mestrado em “História da Arte”. É autora de dois livros: “Raphael Samú e os Mosaicos Murais: Experiência em Arte Pública”, de 2013 e “Marian Rabello e os Azulejos Murais: Experiência em Arte Pública”, em parceria com Ciliani Celante e José Cirillo, lançado recentemente.

Foto: Marcela Belo - via iPhone.


SÍTIO CASARÃO - Marcela, como surgiu o convite para integrar o grupo de jurados do Festival de Parintins?
 

MARCELA - Segundo o regulamento do Festival Folclórico de Parintins, a escolha dos jurados acontece da seguinte maneira:

- Em Manaus, sete dias antes do evento, eles realizam o sorteio dos Estados de onde virão os jurados e qual será o presidente da comissão julgadora. Esse ano foram o Espírito Santo, Sergipe e Paraíba, que indicou o presidente.

- Um representante do Boi Caprichoso e um representante do Boi Garantido visita cada Estado sorteado e fazem o levantamento dos currículos dos profissionais, por meio de alguns órgãos, como a Secretaria de Estado da Cultura, a Prefeitura de Vitória, o SEBRAE, a FAMES, a UFES, dentre outros.

- Em comum acordo, os representantes dos bois escolhem os 3 jurados.

Foto: Marcela Belo - via iPhone.

SÍTIO CASARÃOE como você recebeu a notícia de que tinha sido selecionada?

MARCELA - Fiquei muito feliz. Foi uma grande surpresa! Por questão de preservação da identidade dos jurados, a escolha é feita 1 dia antes da viagem, bem como o anúncio aos escolhidos. Para você ter uma ideia, me ligaram na quarta-feira, às 22h, informando que fui escolhida e que embarcaria no dia seguinte, às 8h.




Foto: Marcela Belo - via iPhone.
SÍTIO CASARÃO - Você foi a única, do Estado, escolhida para integrar o grupo de jurados?

MARCELA – Não. Foram escolhidos mais dois, totalizando três jurados daqui do Espírito Santo: o Bruno de Menezes, que avaliou o bloco “A” – Comum / Musical e a Anna Saiter, que avaliou o bloco “B” – Cênico / Coreográfico.




SÍTIO CASARÃO - Já conhecia o festival (pessoalmente)?

MARCELA - Não conhecia. Já tinha assistido pela televisão, quando a Band detinha o direito de transmissão, no canal aberto. Aliás, não conhecia, até então, nenhum Estado da Região Norte, do Brasil.


SÍTIO CASARÃOExiste alguma exigência para ser jurado e recomendações até a hora do festival?


MARCELA - Para ser jurado deve ser da área que avaliará e comprovar isso através do currículo profissional. Não existe nenhum critério a ser seguido pelos jurados devido a correria para chegarmos à Parintins. Chegamos quinta-feira a noite e no dia seguinte começou o festival.

Ao chegar recebemos o regulamento do festival contendo as normas e os itens que cada jurado avaliaria e com as explicações de cada item. São 21 itens a serem julgados. Em resumo, o requisito é ser profissional da área das artes, cultura, teatro, dança, música ou do folclore brasileiro.

SÍTIO CASARÃOOnde ficam os jurados antes das apresentações dos bois?

MARCELA - Antes das apresentações ficamos confinados em uma casa afastada do centro da cidade,
com uma representante de cada boi cuidando da gente (logística, alimentação, orientações, etc). Na arena, são distribuídos em três cabines: uma fica na parte central, de frente para a arena, e as outras duas nas laterais, em baixo da “galera”, como são chamadas as torcidas.  
Foto: Marcela Belo - via iPhone.


SÍTIO CASARÃO Qual item julgou?

MARCELA -
Fui jurada do bloco “C”, o artístico, que julga os seguintes itens:

Item 04 – Ritual Indígena
Item 13 - Tribos Indígenas
Item 14 – Tuxauas
Item 15 – Figura Típica Regional
Item 16 – Alegoria
Item 17 – Lenda Amazônica
Item 18 - Vaqueirada


SÍTIO CASARÃOE como foi julgar as apresentações dos bois? Qual foi o vencedor?

MARCELA -
Não foi uma tarefa fácil. O tema do Caprichoso foi “Amazônia Táwapayêra” e do Garantido, “Amazônia, Fé e Celebração”. É tudo muito belo, suntuoso.

Cada boi segue o folclore local e apresenta os itens obrigatórios. Na minha opinião, o ritual indígena, onde se revela o pajé, com sua bela indumentária, efeitos, encenação e alegoria, tudo bem montado, trabalhado e manipulado, é o ápice da apresentação.

Sinceramente, difícil comparar... Ambos fizeram belas apresentações, perfeitos!

O Garantido foi o vencedor deste ano.



Foto: Marcela Belo - via iPhone.
SÍTIO CASARÃOComo é a relação da cidade de Parintins com o festival?

MARCELA -
A economia de Parintins, e até de Manaus, giram em torno do festival. Parintins é dividida, literalmente, em duas: numa parte da ilha moram as pessoas que torcem pelo boi Garantido e na outra, as do boi Caprichoso.

A ilha é também uma cidade universitária, que possuía cursos da UFAM - Universidade Federal do Amazonas e possui também uma Estadual, a UEA – Universidade do Estado do Amazonas. Conta ainda com escolinhas de artes para a formação das crianças, uma para cada associação folclórica (Garantido e Caprichoso).

O clima de Parintins é muito quente, com chuvas diárias, inclusive, no domingo, choveu forte logo após chegarmos ao Bumbódromo, 30 minutos antes de começar a apresentação do Caprichoso. Esperamos por quase 2 horas para a chuva passar e aí ficou decidido pela organização do evento que aquele dia não valeria nota, pois prejudicaria as associações.


Foto: Marcela Belo - via iPhone.
SÍTIO CASARÃO E o "clima" entre os habitantes e os turistas?

MARCELA - Infelizmente não pude conhecer muito a cidade, pois fizemos apenas um passeio pelo centro. Mas de maneira geral a cidade fica muito cheia de turistas e existe realmente o ambiente de disputa, por toda parte.


Foto: Marcela Belo - via iPhone.
SÍTIO CASARÃOAs particularidades do evento chamam a atenção: o silêncio que a torcida “contraria” deve fazer, durante a apresentação do adversário. A questão do respeito as cores dos Bois... O Festival de Parintins é o único evento, no mundo, onde a Coca-Cola muda a cor da sua logo. É uma festa bem distinta das que conhecemos, não?

MARCELA - Sim. Eles levam muito a sério essa rivalidade e as cores dos bois evidenciam claramente isso. Os patrocinadores oficiais do festival devem sim seguir e respeitar. Enquanto um boi se apresenta, a torcida “contrária” deve ficar em silêncio, sentados e no escuro. Não podem se manifestar. Para você ter uma ideia do quanto levam a sério, nós, jurados, recebemos somente caneta verde, para deixar clara a imparcialidade. Azul e vermelha, não podem.

O único momento em que as duas torcidas ficam de pé, juntas e iluminadas, é na hora que os jurados entram no Bumbódromo. Além disso, a “galera” (quem está na arquibancada) também interage durante a apresentação e deve participar ativamente da apresentação. A tarde, durante a passagem do som, ensaiam as coreografias, pois também são avaliados pelos jurados musicais, contam como um dos itens. Isso tudo confere uma originalidade única ao festival. Surpreendente!


Foto: Marcela Belo - via iPhone.

SÍTIO CASARÃOAntes o Bumbódromo tinha menos luz e usavam muitos fogos de artifício para os efeitos. Depois de alguns incidentes, reduziram o uso e, com a transmissão pela TV, aumentaram a iluminação. Isso não tirou um pouco do brilho dos efeitos?

MARCELA - Os fogos de artifícios são usados do lado de fora do Bumbódromo Somente na apresentação do pajé é permitido o uso de artifícios luminosos (aqueles de mão) dentro da arena. De qualquer forma, o espetáculo é belíssimo e os efeitos continuam encantando os “brincantes” (que participam da apresentação) e a “galera” (torcedores, que assistem ao espetáculo).


Festival de Parintis: único evento, no mundo, onde a Coca-Cola muda a cor da logo. Foto: Marcela Belo - via iPhone.


SÍTIO CASARÃODeve ser uma experiência incrível assistir ao vivo o maior Festival Folclórico do Brasil.

MARCELA - Realmente foi incrível! E um detalhe que torna mais interessante e especial, para os jurados, é que eles se apresentam para nós, chegam pertinho da gente e fazem as encenações de danças, ritos...

SAIBA MAIS:

COMO CHEGAR?

Para chegar a Parintins, só de avião (pouco menos de 1h, partindo de Manaus) ou de barco, pelo rio Amazonas (cerca de 12 a 30 horas, dependendo do tipo de embarcação e da direção da correnteza. O retorno é mais demorado, pois navega-se contra as águas do rio). Do Pará, estado vizinho, também partem voos e embarcações com destino a Parintins.

ACOMODAÇÕES:

As opções vão desde hotéis a pacotes de viagem que oferecem transporte e estadia em barcos luxuosos, com cabines privativas. Pode-se também alugar uma casa ou quartos cedidos por habitantes, durante o período do festival.

O BUMBÓDROMO:

O Bumbódromo de Parintins ou Centro de Convenções Amazonino Mendes, Tem o formato estilizado de uma cabeça de boi. Quando inaugurado, acolhia até 35 mil espectadores. É dividido em tribuna de honra, camarotes, arquibancadas especiais, cadeiras numeradas e arquibancadas do povão. Essas representam 95% dos lugares e são divididas, rigorosamente, em partes iguais para as torcidas do Caprichoso e do Garantido. Cada um dos lados da arquibancada é pintado com a cor do Boi correspondente. Uma reforma em 1998 aumentou o número de camarotes, criando uma nova galeria, diminuindo o número de lugares das arquibancadas gratuitas. O Bumbódromo está localizado no centro da cidade e, literalmente, divide as nações azul e vermelha.


Bumbódromo de Parintins. Foto: Frank Cunha/ Rede Amazônica

INGRESSOS PARA O BUMBÓDROMO

Tanto os ingressos para entrar no Bumbódromo, como reserva de passagens e acomodações devem ser providenciados coma antecedência, pois trata-se do segundo maior evento folclórico do país.

OS NÚMEROS DO FESTIVAL:

  35.000 lugares tem o Bumbódromo;
   4.000 - Brincantes desfilam divididos em
        30 "tribos" (equivalem as alas de escola de samba);
      600 ritmistas pode ter a “marujada” ou “batucada” (bateria);
35 e 40 metros de comprimento e
        12 de altura podem chegar as alegorias;
     2h30min – dura cada apresentação dos bois;
 15 a 22 toadas são cantadas em Parintins. No Rio, cada escola canta um único samba-enredo.

Ensaio Técnico - Festival de 2012 - Foto: Assessoria do Garantido

OS BOIS: GARANTIDO E CAPRICHOSO.

Os bois-bumbás de Parintins existem desde 1913 e transformaram-se no maior espetáculo folclórico do Brasil e a segunda maior festa popular do mundo, perdendo apenas para o carnaval.

A rivalidade entre os “Bois” conta com várias versões desencontradas e difícil saber qual surgiu primeiro.

O fato é que essa rivalidade deu origem a várias histórias e muitas fazem referência ao aspecto amplo da cultura humana. É a convergência da colonização, da catequização da igreja, da cultura tribal, dos contos e da imaginação popular, da realidade e das lutas em defesa da terra, do meio ambiente da vida. Reconhecido internacionalmente, o festival e uma só coisa: a nossa história. E para entender melhor esse enredado de casos e acasos, recomendamos a leitura de “Parintins Memória dos Acontecimentos Históricos”, de Tonzinho Saunier, um excelente trabalho de pesquisa.

CURIOSIDADES:

Os bois surgiram no mesmo ano, 1913: O Boi Bumbá Garantido foi fundado por Lindolfo Monteverde, na baixa do São José. Tornou-se uma associação em maio de 1982. Já o Caprichoso foi fundado por Emídio Rodrigues Vieira. É conhecido como o boi da parte de baixo da cidade.

Importante saber: Em Parintins, um torcedor jamais fala o nome do outro Boi, e usa apenas a palavra "contrário" quando quer se referir ao opositor. São proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra demonstração de expressão quando o "contrário" se apresenta. Cada torcida contrária permanece em silêncio, pois qualquer manifestação pode originar na perda de pontos.

Música: A música, que acompanha durante todo o tempo é a toada. O canto das toadas vem da pequena ilha de Parintins. Os dois Bois tem ordem de entrada na arena alternada em cada dia, definida por meio de sorteio. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica. Muitas das toadas incluem também sons da floresta e canto de pássaros.

Ritual: O ritual dos Bumbás mostra a lenda de Pai Francisco e Mãe Catirina que conseguem, com a ajuda do Pajé, fazer renascer o boi do patrão. Conta a lenda que Mãe Catirina, grávida, deseja comer a língua do boi mais bonito da fazenda. Para satisfazer o desejo da mulher, Pai Francisco manda matar o boi de estimação do patrão. Pai Francisco é descoberto, tenta fugir mas é preso. Para salvar o boi, um padre e um médico são chamados (o pajé, na tradição indígena) e o boi ressuscita. Pai Francisco e Mãe Catirina são perdoados e há uma grande comemoração O Garantido, considerado o "boi do povão", acumula 21 vitórias contra 15 do Caprichoso, "o boi da elite".

Marujada e Batucada: Nas escolas de samba temos a Bateria. Em Parintins temos: Batucada do Garantido e Marujada de Guerra do Caprichoso: A bateria com suas batidas precisas e contagiantes cadencia o ritmo da toada, de letras épicas, poéticas e sedutoras.

Jurados: Os jurados são sorteados na véspera do Festival e todos vêm de outros estados. Pela proximidade, pessoas do norte são vetadas.

Currais: são onde ensaiam os bois. Equivalem as quadras das escolas de samba. As coreografias de cada boi são ensaiadas durante seis meses.

As cores: Os amazonenses levam a sério a rivalidade entre Caprichoso e Garantido, expressa principalmente nas cores. Os jurados usam canetas verdes para não rolarem dúvidas sobre imparcialidade.

FONTES PESQUISADAS:

Boi Bunbá
Mundo Estranho
Amazônia de A a Z
Cidades do Brasil
Nossa Gente

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