RIO DOCE MORRE LENTAMENTE: ATÉ QUANDO SEREMOS ACOMODADOS, PASSIVOS E OMISSOS?

O Rio Doce: de fonte de vida, para a morte! (Foto: Associação dos Pescadores e Amigos do rio Doce)

Neste momento de tantas ocorrências negativas ganha destaque o atentado terrorista, na França. Aqui, em terras tupiniquins, um mar de lama desce das montanhas com destino ao litoral tornando-se o último suspiro de um rio que já agonizava pelo descaso do poder público.

Infelizmente estamos presenciando a maior tragédia social e ambiental do país, causada pelo rompimento das duas barragens, em Mariana (MG).

A morte do Rio Doce em Valadares (MG) é uma triste realidade que anuncia o caos que está por vir nas cidades aonde a lama ainda não chegou. Milhares de habitantes já estão sofrendo por falta d'água e outros milhares sofrem com a certeza de que vivenciarão o mesmo caos. 

Diante de tamanha tragédia, ainda não é possível mensurar os danos causados e os que ainda serão, já que o mar de lama desce lentamente rumo ao litoral e, segundo incertas previsões, chegará ao nosso estado, ES, na próxima segunda feira. Trata-se da mórbida contagem regressiva para o fim de um rio e o início de um pesadelo, anunciado porém antecipado pelo, ainda misterioso, rompimento das barragens. Especialistas já declaram: o Rio Doce está oficialmente morto.´A água, por onde a lama passou, agora é imprópria para irrigação e consumo animal e humano.

Mortes e destruição: assim começou a tragédia que segue destruindo o Rio Doce, rumo ao litoral capixaba e deixando milhares de habitantes sem água!

A crise hídrica parecia ser o nosso pior pesadelo até chegar a energética, seguida da política, que fomenta a econômica e, agora, essa tragédia que iniciou com nove mortos e 18 desaparecidos, contabilizados até o momento e que destruiu uma comunidade de Mariana que mal consegue prever o fim desse pesadelo.

É preciso manter os olhos abertos e a percepção de que muitos oportunistas irão se dar bem com essa tragédia:

- Políticos oportunistas, tão culpados pela destruição do Rio Doce quanto esse "incidente", com as mesmas falácias de sempre, se colocarão como nossos defensores na tentativa de se reelegeram, mais uma vez, as custas de uma grande desgraça;

- A mineradora, agora, terá que fazer o que esses políticos nunca fizeram: recuperar o Rio Doce. Assim, os oportunistas se beneficiarão com a tragédia. Na verdade, ficaram livres de um grande problema, já que o rio agonizava pelo descaso público. Já a população...

É tempo de refletir diante de tantas absurdos e eventos negativos. A França sofre com atentados terroristas e nós sofremos com atentados corruptos.

A lama tóxica dificulta o socorro: não dá para andar ou pousar nela. 

Quando e como será o fim dessa história? Quanto tempo levará para o Rio Doce voltar a ter vida? Como será a vida dos habitantes das cidades sem o Rio Doce? De que lado ficarão os políticos, já que suas campanhas foram "gentilmente" patrocinadas pela mineradora? Como saber quem são as vítimas e os culpados? Como atribuir um valor a tantos prejuízos: gravíssima e gigantesca destruição ambiental e social? 

Desde quando conquistamos o direito de eleger os nossos governantes nos tornamos vítimas de nossas equivocadas decisões. O voto, essa importante arma para mudanças, vem sendo depositado nas urnas reelegendo os mesmos nomes de sempre ou de novos comparsas. Talvez falte opções de escolha, o que não justifica reeleger os "menos ladrões" já que dois botões "nulo" e "branco" são "gatilhos" perfeitos para dispararmos nossa indignação contra as velhas raposas politiqueiras.

Após endurecer sepultará para sempre a vila: o local nunca mais será o mesmo!

A manutenção dessas velhas raposas no poder tem sido a causa da nossa desgraça. Nossa omissão, acomodação ou passividade nos tornam mais cúmplices do que vítimas dela. O efeito borboleta, parte da Teoria do Caos, nesse cenário vergonhoso, merece uma releitura: o cruzar dos braços de um único cidadão pode trazer consequências enormes e trágicas, no futuro de todos.

Que Deus, diante de tantos erros que insistimos cometer, tenha misericórdia, ou não.